"Existe um momento em que a mentira deixa de ser apenas um problema de caráter e passa a ser uma psicopatologia grave, com consequências profundas para a vida em sociedade", explica o Dr. Sandro Tubini, psicólogo.
Mentira x verdade
Ora, vamos ser verdadeiros, afinal todas as pessoas já contaram uma mentira para se livrar de uma bronca, para ter algum benefício ou até mesmo para evitar de machucar alguém, e socialmente falando, isso é considerado aceitável até certo ponto.
No entanto, nosso foco será nos indivíduos que fazem da mentira um estilo de vida, se tornando compulsivos e chegando ao ponto de perder a capacidade de se relacionar (ou de fazer qualquer outra coisa) sem mentir.
Mitomania
O hábito de mentir compulsivamente é considerado um distúrbio de personalidade chamado mitomania, em que a pessoa mente a respeito de todos os assuntos, sem nunca demonstrar constrangimento quando suas histórias são descobertas. O mitômano vai a extremos para sustentar suas mentiras, a ponto de ele mesmo acreditar em suas histórias.
Existe um momento em que a mentira deixa de ser apenas um problema de caráter e passa a ser uma psicopatologia grave, com consequências graves para a vida em sociedade, explica o Dr. Sandro Tubini, psicólogo.
A origem da mentira compulsiva
Por mais que as crianças aprendam logo cedo que mentir é feio e errado, é justamente durante a infância que as pessoas aprendem a mentir. Ninguém nasce sabendo mentir, e este é um comportamento aprendido por repetição ou por interpretação — seja para se defender de alguma situação ou para obter ganhos.
O que acontece é que muitas crianças têm dificuldade de enfrentar frustrações e críticas, além disso acabam encontrando na mentira uma maneira de preservar sua imagem e obter o que desejam.
Quando conseguem o que querem e não sofrem punição pela mentira, as crianças entendem que mentir é funcional, podendo desenvolver a mitomania. Pessoas que cresceram em um ambiente cercado de mentiras tendem a repetir o comportamento aprendido.
Porque as pessoas mentem?
Ainda que a mentira possa trazer perdas e seja sempre arriscada, ela geralmente funciona como um mecanismo de proteção para evitar dor ou para obter alguma coisa. As pessoas mentem porque esta é uma ação que funciona e, a partir daí, continuam mentindo para obter bons resultados.
Algumas situações que levam a pessoa a mentir são:
- Necessidade de autoafirmação associada à insegurança, ao medo e à baixa autoestima: a pessoa precisa provar para ela mesma que é importante e aceita, encontrando na mentira uma forma de se superiorizar;
- Falta de autoconhecimento: a pessoa não conhece seu potencial e não aceita suas limitações, perdendo a coragem de ser quem é de verdade por medo de não ser aceita;
- Falta de autoconfiança: a pessoa não confia em suas capacidades e não se sente capaz de realizar nada, preferindo mentir para obter algo que deseja;
- Ausência de afeto na infância: por não saber como lidar com as relações e com o amor, a mentira acaba sendo uma das formas de a pessoa se proteger daquilo que não aprendeu a sustentar;
- Medo de assumir responsabilidades: pessoas que foram muito mimadas e superprotegidas não aprenderam a seguir regras e lidar com problemas, podendo se apavorar diante de responsabilidades. Algumas pessoas mentem simplesmente para criar uma situação desconfortável que permita que ela fuja da responsabilidade.
O melhor caminho para se tentar resolver este problema é proporcionar a mudança dos padrões mentais e isso só é possível através da psicoterapia, pois é a única forma capaz de se operar a memória e restaurar a realidade, completa a Dra. Daniele N. Tubini, psicóloga.
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