O resultado é que mesmo o próprio olhar vai querer afastar-se, pois o antigo objeto de amor torna-se indigno de ser amado.
Armadilhas do amor
Algumas pessoas impõem de tal foma os seus desejos ao parceiro que ele acaba por se anular, tornando-se fraco, desinteressante. Muitas vezes o comportamento é fruto do medo de perder: tenta-se eliminar do outro tudo que possa atrair olhares alheios.
Quando se está envolvido pela nevoa da paixão, nem sempre se é capaz de perceber que alguns relacionamentos são sem futuro e mais se parecem com uma armadilha, explica o Dr. Sandro Tubini, psicólogo.
Uma das armadilhas prediletas do amor é a exigência de dedicação incondicional do parceiro. De início, a vítima tenta resistir, manifestando seus desejos, discutindo, fazendo acordos. Mas se o outro é uma pessoas ardilosa, que exibe sofrimento diante das frustrações causadas pelos atos afirmativos do paceiro, este acaba cedendo, desistindo de seus valores e de sua postura independente.
Em nome do amor, torna-se servo. E quando a mudança se instala, parte do que era atraente nele – a força de sua personalidade, a diferença, o desafio, a incerteza – desaparece. Uma imagem exprime bem a situação: chupar a fruta até tirar dela todos os elementos nutritivos e então cuspir o bagaço.
Admiração e aprovação
A dobradinha admiração/aprovação faz parte da composição amorosa. A pessoa se sente valorizada quando é amada por alguém que admira e a aprovação dessa pessoa se torna um elemento importante no equilíbrio da relação. Os conflitos muitas vezes surgem do sentimento de que um não está sendo devidamente apreciado pelo outro e são resolvidos por acordos entre iguais. Se o parceiro não tem vontade própria, se concorda com tudo que o outro deseja, desaparece como pessoa e não pode pode mais ser admirado.
Sua aprovação ou desaprovação deixa de ser relevante: já não serve para a auto-estima, para o orgulho de um parceiro altivo; já não é um parceiro de luta, pois sua personalidade e força sumiram. Onde deveria haver dois a enfrentar o mundo sobre apenas um com sua rabeira: uma sombra sem força de realização.
É uma situação paradoxal: deseja-se uma pessoa forte, mas se tem medo de que essa força atraia outros, provocando o abandono. Faz-se então um esforço para dominá-lo até que ele se torne uma criatura fraca, indigna do amor e incapaz de realizar uma parceria produtiva. Isso nos leva a pensar que em certo número de casos a insegurança é um dos componentes que mantém o amor.
O impacto no amor, no comportamento e na saúde
Essas considerações se baseiam em um caso que ocorreu na minha clínica. Um rapaz de início tímido havia se tornado auto-afirmativo, adquirindo charme e densidade, usando sua inteligência para estabelecer relações. Tinha romances que duravam algum tempo e, ao terminarem, causavam um sofrimento que não chegava atrapalhar a sua vida. A auto-estima e o garbo se mantinham.
Até que, ao se apaixonar por uma mulher que considerava especial, passou a ter medo excessivo de perdê-la, como se não a merecesse. Diferentemente das situações anteriores, em que se sentia em plano de igualdade ou mesmo de superioridade, pôs-se em situação de inferioridade e passou a atender às solicitações da namorada mesmo se contrariavam seus sentimentos e princípios. Logo perde a individualidade e, com isso, o charme e a essência. Deixou de existir como pessoa e foi descartado, ficando em um estado de extremo sofrimento e desvalorização. Sua auto-estima desapareceu e demorou para começar a recuperar sua identidade e sua potência.
O amor exige concessões de parte a parte. Mas certos princípios e sentimentos básicos pessoais não podem ser abandonados, sob pena de um desenvolvimento desfavorável da relação e, pior, de uma transformação de um ser humano consistente em uma inconsistência perigosa para o próprio viver.
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