O cão aprende a se manifestar quando sentir o odor específico que indica uma futura crise de hipoglicemia e alertar a família.
Superolfato
O alerta dos cães se deve ao olfato superdesenvolvido, muito mais apurado do que o dos humanos e por isso eles são capazes de farejar odores como o do isopreno, exalado pelos pacientes diabéticos quando a glicemia no sangue está baixa.
A informação foi dada por pesquisadores de uma outra universidade, a de Cambridge, em um artigo publicado no ano passado na revista Diabetics Care.
No experimento, os cientistas reduziram, no laboratório, a glicemia no sangue dos voluntários com diabetes tipo 1 e viram que o nível de isopreno subiu bastante – quase dobrou em algumas pessoas.
A possível explicação é de que cachorros sejam sensíveis a essa substância. Veja:
- “O isopreno é um dos químicos naturais mais comuns que encontramos no hálito do ser humano, mas surpreendentemente sabemos muito pouco de onde ele vem”, declarou Mark Evans, médico do Hospital da Universidade de Cambridge;
- Ele explica que a suspeita é de que a substância seja gerada na produção do colesterol, mas não se sabe por que o isopreno subiu em pessoas com hipoglicemia;
- “Ele não tem uma compaixão admirável ou um superpoder – apenas foi treinado para ser o melhor amigo de um diabético. Ensinar cachorros a antever crises de hipoglicemia em seus tutores é uma técnica com potencial”, diz.
Raças para treinamento
O treinamento de cães para identificarem esse processo metabólico nasceu naturalmente de experiências do dia a dia, pois se tornou comum a informação sobre a atitude dos cães em casos de crise, “Muitos diabéticos donos de cães diziam que o cachorro alertava quando eles estavam prestes a ter uma crise hipoglicêmica. A ideia é treinar os cães para fazerem isso sempre”, diz Rocio Marin, coordenadora do Bocalán Brasil.
A Bocalán é associação nascida na Espanha que treina cães de alerta médico e está há dois anos no Brasil – hoje, com sede em São Paulo. Ela explica que, em geral, as raças treinadas são labrador, beagle, jack russel e springer spaniel.
No entanto, até mesmo vira-latas podem ser treinados, lembra Jorge Pereira, diretor da CanixCorp, empresa especializada em adestramento de cães farejadores com escritório na Mooca, em São Paulo.
O que importa é o perfil do animal, que precisa ser sociável. “Treinamos o filhote para identificar a substância em meio a amostras de urina, suor e hálito”, diz o treinador.
Como o cão-assistente alerta os diabéticos?
Na base da recompensa, o cão-assistente aprende a se manifestar quando sentir o odor específico que indica uma futura crise de hipoglicemia. O alerta é combinado com o futuro tutor – pode ser um latido, uma lambida no rosto ou um toque da pata no chão.
O investimento é alto. Adquirir um desses cães custa por volta de R$ 50 mil.
Para cuidar – ou ser cuidado – por um desses bichos, é preciso fazer o pedido e aguardar o treinamento do pet, o que pode levar cerca de um ano a um ano e meio.
O diabetes no Brasil
O Brasil tem cerca de 11 milhões de diabéticos. Desses, de 5% a 10% (550 mil a 1,1 milhão) sofrem do tipo 1 da doença, a mais suscetível às crises, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes. Veja:
- Pacientes com esse tipo de diabete precisam monitorar constantemente a glicemia no sangue e tomar várias injeções de insulina ao longo do dia para não sofrer por conta da falta de açúcar no sangue;
- Sem o hormônio, as crises surgem com tonturas, tremedeira, desorientação e, em casos mais graves, desmaio, convulsões, coma e morte;
- “As causas mais importantes são ficar muito tempo sem se alimentar ou usar doses de medicamentos de forma errada”, explica Luiz Turatti, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes.
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